24 de jan. de 2017

Crônica de uma morte anunciada

"No dia em que o matariam, Santiago Nasar levantou às 5h30 da manhã...". Assim começa a história e me pergunto se teria como ser diferente, considerando que sua morte já é anunciada no título do livro. Esses anúncios, aguçam a curiosidade do leitor em explorar o acontecimentos seguintes, para entender o motivo da tragédia, visto que, normalmente, livros do tipo tem a morte como tema central, mas o seu desfecho acontece lá ao final da narrativa.

O texto é baseado em fatos reais e escrito pelo celebrado Gabriel García Márquez (Prêmio Nobel de Literatura em 1981), num formato jornalístico de reconstrução dos fatos, contado por um narrador não onisciente que busca informações, ouvindo os diversos envolvidos e realizando pesquisa documental, para escrever a crônica.  A trama, muito bem construída, monta um quebra-cabeça, cujas peças vão se encaixando aos poucos, através das várias versões do ocorrido, relatadas por aqueles que vivenciaram o último dia de vida de Nasar.

Ao longo da leitura, não temos muitas informações do personagem que será alvo de um assassinato, não sabemos o que passa em sua mente, nem se ele tem consciência do trágico fim que o espera. O que estranha é o fato de que, praticamente, toda a cidade saber que ele morrerá e (quase) nada é feito para impedir o infortúnio. E tem algo de intencional nisso... Será que o(s) assassino(s) queriam mesmo matá-lo?

Podemos traçar um paralelo com a vida real? Sem dúvida! Quantas vezes, em situações cotidianas e por razões diversas, tendemos a ficar à margem, não nos envolvemos, não arriscamos, não nos comprometemos, com receio do que pode vir a acontecer, das possíveis consequências, do aumento de responsabilidade... Ou ainda, quando o senso comum torna alguma situação tão banal, aceita pela maioria, que nada se faz a respeito.  Enfim, é para pensar, lendo, claro, essa obra primorosa.

Esse foi a minha primeira leitura do Gabo, um dos autores latinos americanos mais conhecidos da atualidade. Enfim, comecei a pagar um débito com a literatura! E o próximo livro dele já está aguardando: Do amor e outros demônios. 

Agradeço ao amigo Jhony Marquete pelas conversas sobre o autor e que resultaram, rapidamente, em duas de suas obras em minha estante! Valeu, Jhony! =)


22 de jan. de 2017

A Louca da Casa


Kit de outubro/2016 da TAG: livro, revista literária e brinde.
Quando recebi "A Louca da Casa" de Rosa Montero (o livro veio na minha primeira caixinha da TAG Livros, um clube de assinatura literário), fiquei curioso para saber sobre o que a obra tratava. Diferente do que eu esperava, descobri que o texto faz uma "ode" aos livros, à literatura! A autora diz que "escrever sobre o ofício de escrever é uma espécie de mania obsessiva dos romancistas profissionais". Em resumo, trata-se um primor metaliterário, ou seja, a literatura está no centro temático do livro.

De uma forma leve, bem-humorada e romanceada, Rosa aborda sua paixão pelas palavras. Misturando fatos de sua vida pessoal (reais, aumentados ou inventados, não saberemos) e também curiosidades, elogios e críticas a respeito de grandes autores e obras bastante conhecidas (fruto de uma apurada pesquisa, portanto, passível de verificações), ela discorre sobre o ofício de escrever, em uma linha quase que indivisível entre realidade e imaginação.

Rosa lança uma reflexão muito interessante quando escreveu que "nossa identidade reside na memória, no relato de nossa biografia. Portanto, poderíamos deduzir que os seres humanos são, acima de tudo, romancistas, autores de um romance único cuja escrita dura toda a existência e no qual assumimos o papel de protagonistas. É uma escrita, naturalmente, sem texto físico, mas qualquer narrador profissional sabe que se escreve sobretudo dentro da cabeça. É um runrum criativo que nos acompanha enquanto estamos dirigindo, ou levando o cachorro para passear, ou na cama tentando dormir. A gente escreve o tempo todo". Já se pegou imaginando como seria um livro com a história da sua vida?

Em determinado momento da leitura, me peguei rindo muito quando a autora narra "uma intervenção engraçadíssima e memorável da escritora argentina Graciela Cabal: veio dizer que um leitor tem uma vida muito mais longa que as outras pessoas, porque nunca morre antes de acabar o livro que está lendo". Depois de relatar "uma experiência com seu pai que sempre pedia um livro mais grosso depois de receber a visita médica em seu quarto no hospital", Graciela continua: "É que a morte também é leitora, por isso, recomendo ter sempre algum livro na mão, porque, assim, quando a morte chega e vê o livro, se espicha toda para ver o que você está lendo, como eu faço no ônibus e, então, se distrai".

Nesse momento da leitura, eu comecei a rir sozinho, coincidentemente, dentro de um ônibus! Primeiro, porque sempre tenho um livro comigo e, depois, porque também sempre me espicho para checar e tentar ler um trecho dos livros que as pessoas estão lendo nos ônibus ou locais públicos. É inevitável! E você? Tem carregado algum livro consigo? 

Preparado para descobrir quem é a louca da casa?