30 de nov. de 2009

Uma igreja que constrange

A manhã de hoje começou de forma inusitada. Uma colega de trabalho foi convidada para participar de um “culto” de formatura de teologia em uma determinada “igreja” de linha neopentecostal e me procurou para me relatar sua aventura. Pelo relato, percebi que a teologia neste “culto” ficou em último plano. A homenagem aos formandos ficou reduzida aos primeiros momentos da programação. Preocupa-me a qualidade da teologia ensinada a esses alunos.

Logo, o “pastor” começou a pregar, falou por mais de duas horas e o tema central foi o dinheiro. Atacou criticamente os moradores dos bairros de classe média e alta da cidade (dentre eles o que a minha colega mora), dizendo que todos eles eram seguidores do tal Mamon. Continuou dizendo que os “humildes” ali presentes (a maioria esmagadora) que eram os verdadeiros felizes e bem aventurados, porque tinham como dizimar (e demonstrar sua fé), apesar de possuírem poucos recursos, alegando que ricos só dão aquilo que sobra. Minha colega descreveu a cena como uma verdadeira tentativa de lavagem cerebral, pois o preletor incitava o povo contra as classes sociais mais ricas. Daí pergunto: seriam os pastores e líderes de igrejas que moram e exercem seus ministérios nos bairros nobres também seguidores de Mamon? Seriam templos de adoração ao Mamon, as igrejas instaladas nestes locais? Não deveria ser Jesus Cristo o tema central de uma mensagem cristã?

Durante o discurso, o pastor fez orações específicas: orou pelos dizimistas, por aqueles que estavam com os dízimos atrasados e também pelos que desejavam se tornar dizimistas. Foram orações separadas e sempre identificando os grupos de fiéis em cada uma delas. Um verdadeiro constrangimento para quem está visitando a igreja, sem saber o que está acontecendo e não fazer parte de nenhum grupo.

A platéia foi desafiada a contribuir para que a “igreja” pudesse organizar um evento em local público, cujos gastos estão orçados em mais de R$ 200.000,00! A justificativa: “se os mundanos podem trazer os seus cantores, nós poderemos engrandecer o nome de Deus naquele lugar com um mega evento”. Parece-me que eventos gigantescos, número de participantes e de tamanho e beleza de templo é que define a santidade r prosperidade de um grupo religioso. Tenho outra dúvida: quando certos “líderes de igrejas” vão cair na real e entender que o que Cristo quer é que toquemos as pessoas com a simplicidade de sua mensagem e não que sejam construídos templos faraônicos para servirem de palco para suas presepadas gospel?

O melhor estava por vir. O grand finale ficou por conta do esmagamento de Mamon. Todos foram convocados a levantar as mãos, orar, gritar, pular e trotar na cabeça do tal ser. Um barulho estarrecedor tomou conta do ambiente, somado com a gritaria dos membros ali presentes. A cena pitoresca quase fez a minha colega surtar! Por várias vezes ela tentou sair, mas acabou suportando a tortura até o fim, para não deixar de cumprimentar a sua amiga que a convidou para a formatura.

Eu ouvia o relato contado com riquezas de detalhes e ainda me questiono: a cada domingo, milhares de pessoas entram e saem de nossos templos sem receber a mensagem de salvação de Jesus Cristo. Elas não assimilam nosso evangeliquês (uma linguagem muito peculiar de se comunicar, pregar e cantar, muitas vezes recheadas de expressão arcaicas) e são constrangidas por não entender o que fazemos durante as horas que passamos juntos (ou separados) dentro de nossos templos.

Desconsolado, ainda sonho com uma igreja que atinja as pessoas por aquilo que deveria ser o seu alvo maior: o AMOR.

Fonte da imagem,
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10 comentários:

Diego disse...

é o q sempre comemto com um parceiro meu.
Todo mundo aceita calado, como verdade absoluta, o que "O" "PASTOR" fala.
Ninguém quer estudar as escrituras.
Viver dos pensamentos e ideias dos outros é mais facil. Afinal é ungido de Deus né. E dará conta de tudo a Deus. Quem somos nós?

Fernando Piva disse...

Estudar teologia tem sido um dos meus maiores prazeres. Sair de dentro da caixa é muito bom!

Abração!

Anônimo disse...

é difícil mas só se aprende quando o sofrimento nos magoa, no caso da religião o que aprendi é deixar nas mãos de Deus o que os homens não sabem levar , e DEle não vem benção material alguma se nós não nos esforçamos para sermos melhores , e esse esforço , na luta das diferenças é com Ele que temos que pedir para nos livrar de pessoas assim, porque só cabe a Deus a compreensão... pois só abrem a boca pra atacar e nos ensina a tampar os ouvidos para não ouvi-los e sim aprender sozinho , não sozinho mas com Deus que nos quer maior bem, e quem se mantem fora não conhece o amor ainda , mas tudo tem seu Tempo!!! O melhor é seguir na paz ...

Juliana disse...

Piva é Ju , quem escreveu este texto do anônimo !!!
Fica com Deus

Anônimo disse...

Tem muita gente por aí pensando que Jesus Cristo morreu por nós não para termos vida eterna e sim para termos uma limosine 3000, ou uma casa de três andares com duas piscinas no alto da colina e por aí vai.

A Teologia da Prosperidade é uma praga que precisa ser urgentemente exterminada da face da terra.

Marcell de Oliveira!
É nóis, Piva!

Fernando Piva disse...

Ei Marcell, blz?
Agora fico devendo a história do herege no busão!
Abraços!

Austri Junior disse...

Muito pertinente e oportuno a sua postagem.
Parabéns Piva, gostei muito. É Teologia de primeira qualidade.
Continue falando e colocando a boca no trobone.
A Teologia da prosperidade é um CANCRO BRAVO, fôgo nela!
É por essas e outras que muita gente não quer mais ir à igreja.
De vez em quando visite o CIRCULO TEOLÓGICO, lá eu sento o ferro nessas "teologias" que mais aprisionam e oprimem do que libertam. A função da Teologia é libertar e não adoecer, por isso vamos Teologizar. TEOLOGIZAR PARA LIBERTAR! (ESSE É O MEU SEGUNDO BLOG, PASSA LÁ TAMBÉM).
Parabéns! O texto está ótimo. FANTÁSTICO!
(Desculpe-me pelo atrazo em comentar).

Fernando Piva disse...

Austri, meu caro!
Você sempre me incentivando... rs.

Gosto tanto disso tudo, que se eu pudesse, largaria tudo para ler livros e escrever e ler blogs, além de me dedicar mais à Teologia. Mas isso não posso fazer...

Obrigado pelo carinho de sempre e pode deixar, passarei por lá!

Abraços, brother!

Rodrigo Melo disse...

Parabéns pelo post.

O que tem acontecido nas igrejas, hoje, não dá pra descrever, parece mentira...

Abçs!

Fernando Piva disse...

Obrigado, Rodrigo!
Estou seguindo seu blog, ok?
Abração!